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Regina Navarro Lins fala de sexualidade e relacionamentos

é psicanalista e escritora, autora do livro “A Cama na Varanda”, entre outros. Twitter: @reginanavarro

Regina Navarro: “O arranjo tem às vezes destruído um casamento monogâmico, e outras vezes o tem fortalecido”


Os americanos Bárbara Foster, Michael Foster e Letha Hadady são escritores. Juntos eles escreveram o livro “Amor a Três”, no qual tratam dessa forma de amor, que experimentam há mais de 20 anos. Nem sempre as reações são positivas. Selecionei alguns trechos do livro, que apresento entre aspas.

“Sejam célebres ou obscuros, os participantes dos ménages bebem todos das mesmas fontes de narcisismo, voyeurismo, e da irredutível necessidade de serem três. São todos testados no fogo do ciúme. A questão de quem é meu e a quem pertenço são repetidamente colocadas e respondidas. Se o egoísmo prevalece, ainda que em um dos três, o relacionamento vai degenerar para um triângulo amoroso clássico, com suas espionagens, brigas, culpas, divórcio e violência. Mas se e quando um ménage cresce junto, uma energia especial pode e tem feito coisas fascinantes acontecerem – nas artes, no cinema ou na vida. Um ménage, como qualquer família, baseia-se na confiança.”

Para eles, talvez o ménage à trois seja mal compreendido porque constrói uma estrutura emocional que é inclusiva. “O ciúme, que supomos natural, é o principal obstáculo. Mas uma ira ciumenta é tão estranha à natureza humana que a tratamos como uma compulsão; falamos de uma pessoa ciumenta como se ela tivesse sido arrebatada pelo monstro dos olhos verdes. Um ménage, ao contrário, exige escolha e consentimento mútuo.” O ménage tende a ser composto de dois membros do mesmo sexo e um do outro, e muito frequentemente começa com um casal inquieto. O arranjo tem às vezes destruído um casamento monogâmico, e outras vezes o tem fortalecido.

“Embora os partícipes dos ménages não sejam necessariamente bissexuais, a expectativa de que devamos nos limitar a um sexo, cônjuge ou família cria uma plataforma frágil, com probabilidade de afundar sob a torrente dos nossos desejos”.

Os autores consideram que o ménage continua sendo um segredo obsceno, o último tabu. É como se Moisés tivesse lançado um 11º mandamento: amar apenas uma pessoa. Mas a Bíblia está repleta de triângulos, desde a sedução de Lot por suas duas filhas até o idoso rei Davi que, para prolongar sua vida, dormia nu entre duas virgens.

“Quando Arno Karlen, um psicanalista que vive próximo de nós em Greenwich Village, decidiu escrever Threesomes, um estudo dos ménages contemporâneos, percebeu que os sexólogos não tinham ideia de como lidar com o fenômeno. As audiências dos programas de entrevistas foram céleres em decidir: insultaram as tríades duradouras que Karlen levou como convidados. Conosco tem acontecido coisas similares. Até mesmo conhecidos casuais podem fazer perguntas íntimas e embaraçosas, como quem dorme com quem e quem paga as contas. Como é típico, uma mulher em uma festa, que estava obviamente interessada em Michael, insinuou a Letha que ela deveria procurar outra pessoa para amar e que seu papel como terceira era imoral e não natural. Enquanto isso, um rapaz pendurou-se em Bárbara, imaginando que ela devia fazer jogo aberto. Todos esperam ciúme e violência entre uma tríade, e ficam chocados ao descobrir que o nosso ménage já dura tanto tempo.”

O jornal americano Chronicle saudou com hostilidade uma reapresentação na televisão do filme, de 1982, Summer Lovers (Amantes de Verão), com Daryl Hannah, Peter Gallagher e Valerie Quennessen, dirigido por Randal Kleiser. O filme, rodado nas ilhas gregas, começa mostrando uma típica mistura de jovens turistas em busca de diversão. Um jovem casal americano vai à Santorini em sua primeira viagem conjunta. Lá o rapaz conhece uma arqueóloga francesa por quem se apaixona. Dividido no amor, reluta para não perder a namorada e a convence, com a ajuda da arqueóloga, de que poderão viver a três. O triângulo amoroso se forma. Quando uma das mulheres sai de cena o casal se sente frustrado e resolve voltar para os EUA. Mas a francesa vai ao encontro dos dois no aeroporto e os três, abraçados, retornam juntos para a casa em que viviam na ilha.

O crítico do jornal afirma que é um relacionamento sem saída, que a tríade é implausível porque ninguém saiu machucado. “Qual é a origem desta certeza presente entre os vendedores da cultura popular de que o amor a três deve inevitavelmente conduzir ao desmembramento e à morte? A tríade é um estilo diferente de amor, que não somente exige várias pessoas, mas sua interação no tempo e no espaço. Os ménages à trois têm uma história profunda e longa, como a mais antiga forma alternativa da família, mas não se deve negligenciar o papel do ménage como a fantasia sexual preferida, tanto dos homens quanto das mulheres”, explicam os autores no livro.


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