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Regina Navarro Lins fala de sexualidade e relacionamentos

é psicanalista e escritora, autora do livro “A Cama na Varanda”, entre outros. Twitter: @reginanavarro

Quando alguém é trocado por outro numa relação amorosa, o sofrimento é intenso e é difícil elaborar essa perda


“De repente a minha vida perdeu a cor: meu marido se encantou por uma amiga de minha filha. Foi uma situação bastante complicada. Ele não assumia a relação, mentia para mim e para minha filha, negava tudo, enfim… Muitas pessoas os viam juntos, mas nada comentavam. A situação foi ficando insustentável, a ponto de a mãe dela ir à minha casa e ficar me esperando voltar do trabalho. Foi horrível. Eu não sabia o que dizer, ao mesmo tempo em que me sentia diminuída, a última das mulheres. Demorei muito tempo para me recuperar, se é que consegui me recuperar totalmente. É difícil entender o que leva um homem a expor tanto a sua família. Passamos maus momentos, eu e meus filhos. Meu marido só assumiu a garota quando ela engravidou. Saiu de casa e foram morar juntos. Acho que ambos entraram numa roubada e o tempo está mostrando isso.”

 

Foto: Thinkstock/Getty ImagesAmpliar

Quem é excluído se sente profundamente desvalorizado, com a autoestima bastante comprometida

Pensando na dor que o fato de ser trocado por outro provoca, lancei a seguinte pergunta no meu site: “Você já foi trocado(a) por outro(a)? Como foi?” O placar foi surpreendente: 71% das pessoas responderam sim. Selecionei então algumas respostas:

“Foi horrível. Primeiro, ela disse que queria um tempo pra pensar e duas horas depois, numa festa, já estava com outro. Eu me senti tão inútil…”

“Fui trocada várias vezes. Meu ex foi trabalhar em outro país e vinha de férias a cada dois meses. Após um ano nessa situação ele se casou por lá mesmo, não voltou. Meu atual caso, nesses três anos que estamos juntos, sempre tem uma namoradinha, coisa que dura uns dois meses no máximo e ele acaba voltando. Ou seja, já virou uma doença. Sou trocada de tempo em tempo.”

“Perdi minha esposa para um moleque. Descobri que tinha ficado velho e ranzinza aos 35 anos. Recuperei minha autoestima, voltei a ser aquele safado e bom ‘fdp’. Após virar amante de minha ex, ‘roubei-a’ de volta.”

“Foi terrível. Descobri, pelo celular, que meu marido me traía. Disquei e uma voz feminina atendeu: ‘Fala, Amor!’ Caí do cavalo. Mandei ele embora, mas ele nunca foi; ainda está comigo. Não me sinto vitoriosa. Não esqueço da frase dela ao atender o telefone”.

“Fui trocado por um amigo distante. Fui viajar e a minha namorada encontrou esse meu amigo. Começaram a conversar e quando se deram conta já estavam transando. Como eu soube? Certo dia encontrei esse meu amigo e trocamos telefone. Numa bela noite ele me liga e me diz que havia transado com uma pessoa. Curioso, comecei a interrogá-lo e as peças foram se encaixando. Até que percebi que a pessoa com quem ele havia transado era a minha namorada. Fiquei muito chateado e decepcionado; passei a não acreditar nas pessoas. Abalado e deprimido, chorei muito. Afinal, aquela foi a pessoa por quem dediquei a maior parte da minha vida.”

Pelos relatos acima comprovamos que essa situação não é nada fácil. Quando alguém é trocado por outro numa relação amorosa, o sofrimento é intenso e é difícil elaborar essa perda. A falta da pessoa amada provoca uma sensação de vazio e desamparo. Fomos ensinados a acreditar que apenas o parceiro amoroso é capaz de nos garantir não estar só, de ser amado e de ser uma pessoa importante, aumentando nossa autoestima.

Quando o parceiro prefere outra pessoa para viver ao seu lado, quem é excluído se sente profundamente desvalorizado, com a autoestima bastante comprometida. Acredita que falhou em alguma coisa e que sua falta de atrativos foi a grande responsável. Imagina que a pessoa escolhida é muito mais interessante, mais bonita, mais inteligente e melhor na cama. Tentando se sentir um pouco melhor, há quem tente desvalorizar o rival com comentários depreciativos, com se adiantasse alguma coisa: “você viu como ela tem a canela fina?” ou “o cara é um imbecil que não sabe nem falar direito”.

Mas nada disso adianta. É comum numa situação de rejeição serem reeditadas inconscientemente todas as rejeições sofridas desde a infância, exacerbando a dor do momento. Sem que se perceba, se chora naquela perda todas as outras anteriores. Entretanto, se a pessoa não depende tanto de apreciações externas para alimentar sua autoestima, pode ficar triste, sofre pela perda, mas sabe que vai continuar vivendo bem e experimentar novas relações amorosas.

Os homens suportam menos do que as mulheres a dor de se saber trocado por outro. Não ter conseguido segurar a própria mulher se reveste da dramática ideia de que não foi “macho” o suficiente, principalmente na cama. Muitos homens, desesperados, partem para agressões físicas ou entram em depressão.

Contudo, ser trocado por outro não significa que se é inferior. Em muitos casos, a troca ocorre porque a pessoa objeto da nova paixão possui algum aspecto que satisfaz inconscientemente uma exigência momentânea do outro, sem haver uma vinculação necessária com o parceiro rejeitado.


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